A comunicação popular e independente de Pernambuco é bastante diversa, criativa e está em franco desenvolvimento, apesar dos desafios econômicos, sociais e políticos cotidianos. Ao cruzar ferramentas, práticas e linguagens do jornalismo, da cultura popular e do ativismo em defesa dos direitos humanos, comunicadores e comunicadoras se tornaram pontos de referência em suas comunidades e territórios. Promovem a cultura e a economia locais, denunciam violações de direitos e defendem uma democracia mais participativa.
São grupos majoritariamente integrados por pessoas jovens, periféricas, mulheres negras que praticam uma comunicação posicionada, antirracista, contra a homofobia e a transfobia e os preconceitos de classe.
Muitos deles e delas são estudantes universitários de uma primeira geração de suas famílias que teve acesso ao ensino superior em cursos como jornalismo, cinema, fotografia, design, história, letras, arquitetura, biologia, odontologia, enfermagem e matemática. Outros tantos com formação prática em comunicação popular, ilustração e midiativismo.
Estão presentes nas redes sociais mas também realizam atividades nas ruas em contato direto com seu público, muitas vezes vizinhos e moradores do mesmo bairro. Produzem vídeos para o Youtube e o Instagram, cards e textos para o Facebook e também se comunicam via rádios-poste, áudio-bikes, lambes, fanzines, hip hop, grafitte e uma infinidade de meios.
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Os coletivos abordam temas abrangentes que vão da juventude, às questões raciais e indígenas, de gênero, cultura, entretenimento, educação, saúde, meio ambiente, política, comunicação e tecnologia. Comprometidos com suas comunidades, os coletivos não atuam apenas na área de produção e distribuição de conteúdos e tocam projetos de formação, organização e impacto direto nas áreas de educação, cultura, esportes, saúde, tecnologia e segurança alimentar, em parceria com outros grupos da sociedade civil locais ou estaduais. O trabalho colaborativo é uma das suas principais marcas.
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Na pandemia da Covid-19, eles tiveram um papel central na comunicação para se contrapor à onda de desinformação e fake news propagada, inclusive, por autoridades públicas federais, estaduais e municipais que reverberavam nos territórios periféricos. Primeiro, desconstruindo a ideia de que se tratava de uma “gripezinha”, depois revelando a ineficácia do tratamento preventivo com a cloroquina e, por fim, na defesa e estímulo à vacinação em massa. Isso tudo numa linguagem compreensível e de proximidade com o universo simbólico das pessoas atingidas.
Os coletivos são um canal permanente de pressão sobre o Poder Público para a garantia de ações concretas em defesa dos direitos sociais das comunidades. Foram eles que mobilizaram a sociedade em centenas de campanhas de arrecadação de alimentos, desde o início da pandemia, para combater a fome. São grupos engajados na luta cotidiana por moradia digna, transporte público de qualidade, acesso universal à educação, à creche e à saúde. Em sua maior parte, nasceram e estão vinculados aos territórios mais vulneráveis social e economicamente, conhecem de perto a realidade da vida das pessoas com as quais se comunicam.
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Há, no entanto, uma série de desafios para a ampliação e até mesmo a manutenção do trabalho dos coletivos de mídia independente e popular em Pernambuco. A falta de recursos financeiros é um dos maiores obstáculos. A grande maioria das iniciativas não é economicamente sustentável e seus integrantes, portanto, não podem se dedicar integralmente às suas atividades. Na maior parte dos casos, a dedicação aos coletivos acontece nos poucos horários livres, à noite e nos finais de semana, o que impacta diretamente na capacidade de produção e distribuição de conteúdos. Não por acaso, a maioria dos coletivos publica material próprio nas redes apenas semanalmente ou até mensalmente.
São muito poucos os grupos que conseguem garantir uma divulgação diária.
O financiamento por meio de editais tem sido importante para o trabalho de muitos coletivos, especialmente na área do audiovisual, com o Funcultura e a Lei Aldir Blanc, e, mais recentemente, com a abertura na grade das rádios públicas para produções independentes. Importante ressaltar que os editais são voltados para projetos específicos, com período pré-determinado de execução. Praticamente não existem incentivos financeiros mais permanentes para a estruturação institucional e de gestão dessas iniciativas. Por isso, muitos coletivos precisam que seus integrantes tirem os recursos do próprio bolso para se manterem minimamente ativos.
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A falta de estrutura e de recursos também compromete os processos de formação e capacitação na área de comunicação, mesmo em um ambiente bastante colaborativo como o da mídia independente; além de precarizar as ofertas de trabalho na área; e prejudicar, quando não inviabilizar, a aquisição de equipamentos e ferramentas tecnológicas mais modernos. Sem falar nas barreiras legais que cerceiam a comunicação popular. Caso emblemático é o da criminalização das rádios comunitárias em todo o país. Ainda assim, novos grupos vão se formando a cada dia, estabelecendo laços profissionais e afetivos para a construção de uma comunicação mais diversa e comprometida com os direitos humanos.