“Lutamos por uma cidade que tem que ser pensada pras pessoas, não pro capital”, afirma Diego Rafael
por Martihene Oliveira
Escambo significa troca, e não há nada mais representativo do que esse nome aplicado a um coletivo que utiliza a comunicação popular como uma de suas ferramentas principais, não é mesmo? É assim que o Escambo Coletivo, há 14 anos, se mobiliza na cidade de Paulista, atuando com troca de cultura, informação e muita comunicação.Escambo significa troca, e não há nada mais representativo do que esse nome aplicado a um coletivo que utiliza a comunicação popular como uma de suas ferramentas principais, não é mesmo? É assim que o Escambo Coletivo, há 14 anos, se mobiliza na cidade de Paulista, atuando com troca de cultura, informação e muita comunicação.
Como já diz o professor Diego Rafael, um dos fundadores do grupo, “a ideia do Escambo é a de vir para um espaço aberto, que seja acessível para todo mundo e as pessoas trazerem a linguagem, trocar informação, conhecimento e oportunidades”.
No jeito Escambo de ser, a comunicação luta pelo direito à cidade e denuncia, cotidianamente, a falta de acesso à cultura, o racismo ambiental, dentre outras mazelas impostas pelo Estado à população periférica situada nos subúrbios da cidade, localizada na Região Metropolitana do Recife.
Para o professor, a cidade não é exatamente pensada pras pessoas, existe muita carência e ela é depredada e sucateada de propósito para que ela possa ser disputada pelo poder econômico. “Foi vendo a questão da gentrificação e da especulação imobiliária que a gente começou a perceber que o nosso bairro passou a ser criminalizado de propósito, a violência não é a gente que provoca, a violência é provocada no nosso bairro, a gente termina se matando, entrando em outras perspectivas não porque a gente quer, pelo contrário, isso é um plano para exterminar a juventude negra, exterminar as mulheres, as pessoas trans ou seja, aquilo que eles dizem que é minoria, mas a gente é maioria”, afirmou.
No último encontro do Mapa da Mídia Independente e Popular de Pernambuco, que aconteceu em novembro de 2023, em Paulista, o assunto foi esse: o direito à cidade, um tema comum discutido por todos os coletivos de comunicação popular que atuam nesse mesmo território. Os integrantes do Escambo, junto com os coletivos Força Tururu, Fruto de Favela, M-1, Obirin, entre outros, comungam a mesma problemática que trata da especulação imobiliária, apontando os problemas implantados pelas empreiteiras com superlotação na cidade e pouca qualidade de vida. Uma migração que acontece de cara lavada, para o município que possui 316.719 habitantes em uma área de 93,52 km² segundo o censo do IBGE.
“Lutamos por uma cidade que tem que ser pensada pras pessoas, não para o capital. A gente vem tentando se aprimorar na discussão do direito à cidade porque a gente entende que isso é central na discussão do bem viver para uma política popular onde as pessoas possam estar decidindo por si próprias. Ao longo dos nossos 14 anos, o Escambo vem lapidando essas informações na cidade e a partir dos seus meios, seja com o Ocupe, uma atividade que chega nos espaços públicos para requalificá-los de acordo e com a cara da comunidade; seja com o Escambo Cultural, que abre portas pras atividades culturais, as bandas, os artistas locais e tudo mais; seja a partir do Cine Diverso, um cine debate que a gente faz na praça pra trazer essas temáticas”.
É a partir dessas experiências que o grupo faz um processo de multiplicação, com integrantes que se formam no coletivo e vão para outras frentes de batalha. Além do professor, o Escambo que hoje conta com oito integrantes, possui comunicador social, profissionais do marketing, informática, redes sociais, psicóloga, agroecologistas e arquitetas. “A gente sempre conviveu com diversos lugares culturais e sempre nos demos a essa ideia de troca. Eu aprendi sobre poesia, outras pessoas sobre o hard core, outros sobre o rap, poesia escrita, composição musical, cinema, debate dos documentários, curtas. Temos essa riqueza no bairro, de vários artistas,sendo estes homens, mulheres, cis e trans, com diversidade tanto de pessoas como de arte no bairro”, concluiu.